O ensino tradicional, ao qual a maioria de nós teve contato nas escolas, esteve ancorado na reprodução, com informações memorizadas ou retidas, colocando o aluno na posição de espectador do mundo e do conhecimento repassado pelo professor. Esse modelo de ensino já não faz frente a um mundo hiperconectado, onde milhares de informações são facilmente acessadas por meio das múltiplas tecnologias disponíveis. Nesse sentido, é necessário que os alunos possam desenvolver características como a autonomia, a capacidade de interpretar as informações às quais têm acesso e o pensamento crítico, além do comprometimento com as próprias ações.
Um meio para isso são as metodologias ativas ou active learning, que podem ser entendidas como processos interativos de conhecimento, análise, estudos, pesquisa e decisões individuais ou coletivas, que têm como objetivo a resolução de problemas. Esse modelo pedagógico trata da busca por compreender o aluno e fazer dele parte da construção da aprendizagem, valorizando seus saberes e suas características próprias. Paulo Freire já apontava nesse sentido, vinculando a aprendizagem com a superação de desafios e construída a partir de conhecimentos e experiências prévias dos envolvidos no processo.
Se as metodologias ativas ou active learning não são uma novidade, o uso das tecnologias tornaram-se uma ferramenta importante para a aplicação desse modelo de ensino. A pedagoga, doutora em educação, Gilda Campos explica em uma palestra sobre o tema que essa nova geração de estudantes está habituada a articular saberes que vão além do ambiente escolar, com informações na palma da mão, portanto as tecnologias disponíveis acabam sendo mais atrativas do que as aulas expositivas dos docentes. Nesse sentido, em que a tecnologia é um elemento para a manutenção do interesse, ela afirma que essas ferramentas não sairão mais das ‘salas de aula’, que uma vez inseridas no processo de aprendizagem (de forma mais acelerada em função das implicações trazidas pela imposição do distanciamento físico dos últimos meses) elas permanecerão.
A questão é saber a forma adequada de utilização desses mecanismos na dinâmica de ensino. Para ela, o melhor caminho é partir daquilo que o aluno já conhece, sem divisão hierárquica de conteúdo com padrões de sequência rígidos que não permitem que o conhecimento tácito do aluno seja aproveitado no processo de aprendizagem. Sobre o assunto, o professor, também doutor em educação, Igor Paim afirma que para que isso se torne possível é imprescindível conhecer o aluno – suas capacidades, potencialidades e a realidade na qual está inserido, proporcionando a utilização das melhores alternativas para aplicar em sala de aula, seja virtual ou física. Ele afirma que é preciso conhecer, além dos objetivos de cada uma das atividades, para quem elas estão direcionadas e para quais grupos as propostas serão aplicadas.
Gilda Campos afirma que nesse modelo de ensino o professor ultrapassa o status de mediador tornando-se um colaborador na articulação dos saberes já adquiridos pelos alunos. Este profissional auxilia no processo de estruturação do conhecimento, seja pela EAD, pelo ensino híbrido ou presencial, mediado pelo uso de ferramentas tecnológicas. Podemos dizer que nesse contexto, a aprendizagem deixa de se alicerçar no controle, para garantir a autonomia dos alunos, possibilitando que eles encontrem as próprias respostas diante dos desafios impostos. De acordo com a especialista, “o professor é o mediador entre estudante e informação, estudante e sociedade, estudante e cultura, orientando-o sobre como investigar, avaliar e aplicar seus conhecimentos”.
Considerando essa perspectiva destacamos 4 metodologias ativas já bastante aplicadas.
Aprendizagem baseada em problemas: neste modelo um problema é apresentado para que os alunos individualmente ou coletivamente estudem, investiguem e apresentem soluções que serão conjuntamente discutidas e apresentadas ao grupo, construindo assim uma troca a partir dos diferentes resultados encontrados.
Aprendizagem baseada em projetos: envolve a utilização de projetos autênticos e realistas baseados num desafio motivador. Possibilita o desenvolvimento do gerenciamento de tempo, orientação de objetivos, responsabilidade e autoavaliação.
Aprendizagem baseada em games ou gamificação: o uso de jogos ou dos elementos nos quais os jogos estão baseados, permite deduzir regras e manipular sistemas complexos, ampliando o engajamento dos alunos.
Sala de aula invertida: promove a inversão do modelo de ensino tradicional com o uso de tecnologias. Nele o aluno estuda o conteúdo antes da interação em sala de aula, dessa forma o encontro virtual ou presencial volta-se para a discussão daquilo que foi apreendido pelos alunos, tirando dúvidas e fomentando o debate sobre as questões apreendidas.
Essas e outras alternativas envolvendo metodologias ativas, colocam o aluno diante de questões que mobilizam seu potencial intelectual. Segundo Igor Paim, as metodologias ativas possibilitam a customização, permitindo que cada aluno seja único, com suas características e necessidades respeitadas, criando oportunidades de aprendizagem e estimulando a autonomia e o desenvolvimento de competências para o mundo real.
Nossas fontes: palestra Gilda Campos e Igor Paim.
As metodologias ativas e a promoção da autonomia de estudantes.