No último ano, em função dos impedimentos colocados às aulas presenciais, o conteúdo ministrado no modelo tradicional teve que ser adaptado para uma metodologia aplicável a outro meio: a Educação a Distância (EAD). Algumas instituições, no ímpeto de fazerem a mudança da forma mais rápida possível, não buscaram compreender o funcionamento da EAD e acabaram com transposições quase literais de metodologias usadas nas salas físicas para as salas virtuais.
Estas instituições, com toda a certeza, já tomaram ciência da ineficiência associada à mera transposição. É difícil imaginar um aluno acompanhando cerca de 4 horas diárias na frente da tela do computador sem distrações que dificultem a compreensão do conteúdo. Nesse contexto, o mal uso das metodologias criaram barreiras na aprendizagem, impedindo a eficácia do ensino e da transmissão de conhecimento a distância, e um aumento do desinteresse por parte do aluno.
Para superar essas dificuldades, o designer instrucional (DI) pode ser o profissional certo. A função de DI existe há mais de 50 anos, mas ainda é pouco conhecida no Brasil, passando a listar na Classificação Brasileira de Ocupações apenas em 2008. De acordo com a definição do Ministério do Trabalho, o DI ou Designer Educacional é responsável por implementar, avaliar, coordenar e planejar o desenvolvimento de projetos pedagógicos/instrucionais nas modalidades de ensino presencial ou a distância, aplicando metodologias e técnicas para facilitar o processo de ensino e aprendizagem. Tendo essa definição em conta, podemos afirmar que o DI pode atuar em três níveis:
1) Implementação: desenvolvimento de roteiro, elaboração e adaptação de conteúdo;
2) Planejamento: elaboração de cursos e disciplinas na EAD, fazendo também as escolhas sobre quais mídias serão adequadas para a finalidade de cada projeto;
3) Desenvolvimento: criação de diretrizes completas do projeto, definindo método e sistema de ensino.
Na prática, podemos dizer que o DI é o profissional capacitado para tornar o conteúdo de sala de aula atrativo e assertivo no meio tecnológico (ou em qualquer que seja o meio escolhido), ele é capaz de fazer a estruturação e adaptação do modelo e/ou conteúdo para que o projeto cumpra seu objetivo final que é o de transmitir conhecimento. O analista de educação Paulo Mayer nos ajuda a entender quais são as competências de um DI.
“De forma simples e direta, seguindo as literaturas da área, podemos dizer que o Designer Instrucional é o profissional que recebe um “problema”, compreende-o, projeta, desenvolve e implementa uma solução, posteriormente avaliando os resultados. É um conceito linear ultrapassado, mas que ajuda na contextualização. Hoje defino o papel do DI como um desenhista educacional com os olhos no futuro. Esse olhar torna possível apresentar competências como senso crítico, criatividade, domínio de tecnologias educacionais, boa comunicação, capacidade de análise e resolução de problemas em um cenário onde existem inúmeras informações, pesquisas em constante reinterpretação e muita conectividade entre as pessoas.”
A conectividade mencionada pelo especialista pode fazer com que empresas e instituições acreditem que o profissional que detém um conhecimento, por estar naturalmente inserido nesse universo interligado por meios tecnológicos ou simplesmente por ser um professor, será capaz de desenvolver as melhores abordagens de ensino também no meio EAD. Mas, principalmente na experiência mais recente, foi possível desconstruir essa ideia e identificar a dificuldade de profissionais leigos em compreender a dinâmica necessária para as aulas a distância.
O analista afirma que um bom DI não pode estar limitado a sua experiência de mercado, embora ela seja importante, ele precisa de uma capacitação permanente para continuar gerando as melhores soluções a partir, também, das novas tecnologias que vão surgindo. “O profissional da área deve sempre estar atualizado com as melhores práticas e novas tecnologias procurando sempre se capacitar, expandir sua formação. Por exemplo, quando comecei minha carreira pouco se falava em blended learning (híbrido), mas já sabia que era uma grande tendência. Assim, ao surgir o boom do blended já estava preparado e sabia como construir meus cursos com base num conhecimento prévio.”
Com os insucessos da aplicação improvisada do EAD foi possível compreender a relevância da atuação do DI como ferramenta para garantir a qualidade do ensino. Sobre o assunto, Mayer afirma que “na tentativa de simplificar e, às vezes, reduzir custos, instituições e empresas acabam suprimindo a função do DI e delegando aos demais profissionais já envolvidos no processo de ensino da instituição o desenvolvimento das ações que são expertise desse profissional. O resultado acaba não atingindo a expectativa tanto do aluno quanto da instituição.”
A educação realizada por meio de Ambientes Virtuais de Aprendizagem demandam uma equipe multidisciplinar para o desenvolvimento, aplicação e avaliação da transmissão de conhecimento. Professores, tutores, alunos e gestores estão envolvidos nesse processo e o designer instrucional é aquele que fará a ponte entre todos eles.