A educação a distância de qualidade faz uso de processos que promovem o desenvolvimento tanto das capacidades técnicas quanto cognitivas do aluno. A aplicação de procedimentos adequados podem fazer a diferença na elaboração de materiais assertivos.
Neste sentido a técnica dos seis chapéus pode ser uma grande aliada, por estar organizada a partir de um esquema de análise que possibilita a solução de problemas com base em respostas originais, estimulando a criatividade do aluno.
Esta técnica pode ser utilizada em diferentes contextos para orientar o pensamento, evitando a confusão que é comum quando refletimos sobre algum tema e nossos pensamentos tendem a caminhar em muitas direções ao mesmo tempo. Para isso, os seis chapéus são usados para separar aspectos como a emoção da lógica e a informação da criatividade, funcionando como um esquema de organização das ideias e percepções.
A técnica pode ser aplicada individualmente ou em grupo, embora a segunda opção seja mais proveitosa pela troca estabelecida a partir dos diferentes elementos apresentados.
Como funciona a técnica dos seis chapéus?
A técnica traz o acessório chapéu no nome porque é uma metáfora associada ao objeto de uso cotidiano que desvenda elementos da identidade de quem o usa (como um boné de futebol, uma boina de policial, um capacete de bombeiro e tantos outros exemplos). A escolha é feita também porque este é um objeto que pode ser colocado ou retirado com facilidade e ainda pode ser facilmente visualizado pelas outras pessoas.
Os seis chapéus são divididos por cores. Elas são usadas para facilitar a memorização porque as cores estão relacionadas com a função e com o objetivo de permitir a mudança de direção de pensamento e do modo de pensar, de sentir e de perceber o mundo.
Funciona como um jogo de representações para a construção de um mapa processual do pensamento. Apresenta regras específicas somadas a um aspecto lúdico trazido pelos chapéus, que auxilia na mudança de comportamentos.
Não é um processo linear, devendo ser estabelecido de acordo com as necessidades de cada problema a ser abordado. Variando de acordo com a ordem do “uso” de cada chapéu e também com relação a quantas e quais cores devem ser utilizadas para tratar da situação/problema proposto.
Em alguns casos apenas um ou dois chapéus bastam para organizar o pensamento a partir da proposta estabelecida para a análise. Isso deve ser identificado pelo moderador que pode ou não ser o idealizador do exercício.
Conheça o objetivo de cada um dos chapéus:
Chapéu branco
Relacionado à neutralidade e objetividade. Quando esse chapéu é invocado, os participantes devem utilizar apenas fatos para discutir o problema. Neste momento também é possível identificar as lacunas que precisam ser preenchidas sobre a temática – quais informações precisam ser pesquisadas e trazidas para proporcionar o entendimento amplo da temática.
As questões chave quando o chapéu branco está “em uso” são:
1- Que informações temos? Elas são divididas em dois níveis. O primeiro nível é de informações verificadas (como estatísticas e estudos). O segundo nível é de informações presumidas (aquelas trazidas pelo nosso conhecimento e experiências pessoais). No último caso é preciso aplicar o uso de expressões como “pela minha experiência” ou “na minha opinião”. O sistema de níveis é estabelecido de acordo com a capacidade de veracidade de cada uma das informações apresentadas, quanto mais confiável mais alto será o nível da informação apresentada.
2- Quais informações faltam? Depois de apresentadas as informações iniciais é possível identificar elementos que são importantes para o entendimento da questão, mas ainda não constam na primeira lista, definindo quais informações ainda precisam ser supridas na busca por uma visão geral do problema.
3-Como obter as informações que precisamos? Aqui são estabelecidos os melhores caminhos para preencher as lacunas encontradas na pergunta anterior.
O importante é que na reflexão proposta pelo chapéu branco as opiniões dos participantes não devem ser manifestadas, embora a opiniões de terceiros possam ser utilizadas para embasar uma informação que configura-se como dado. Exemplo: “a pesquisa de mercado demonstrou que 40% dos brasileiros prefere viajar para o exterior”, este caso representa um conjunto de opiniões e preferências que transfiguram-se em informação quando abordadas dentro de um problema envolvendo o turismo brasileiro.
Chapéu Vermelho
Esta cor sugere calor e energia, dando espaço para que os sentimentos sobre a temática sejam apresentados. Eles são divididos em dois tipos, o primeiro trata sobre as emoções comuns, como raiva, medo e desconfiança. O segundo tipo envolve sentimentos mais complexos, que incluem o palpite, a intuição, as impressões, entre outros.
Nesta etapa o problema passa a ser avaliado a partir destes sentimentos que devem ser comunicados sem a necessidade de justificação. Esse chapéu permite que os participantes tenham liberdade para manifestar-se sem uma lógica determinada ou qualquer tipo de argumento que fundamente o sentimento.
Neste exercício a tomada de decisão não é estabelecida apenas pela objetividade dos fatos, mas as emoções envolvidas também são tomadas como parte do processo. As opiniões pessoais entram aqui quando vinculadas aos sentimentos que dessa perspectiva não devem ser ignorados uma vez que mesmo não manifestados eles influem sobre nossas escolhas. Então nada melhor do que deixá-los ver para compreender de que forma estarão influenciando no processo.
Chapéu preto
Cor séria e sombria. O chapéu preto remete ao pensamento crítico. Neste momento é preciso desvincular-se de padrões pré-estabelecidos e analisar o problema/temática a partir de uma visão cética, evidenciando o processo e suas falhas, os riscos envolvidos, obstáculos e pontos fracos.
Nessa parte da abordagem é possível identificar a viabilidade e aplicação prática das ações propostas, para além de uma descrição ou explicação. Com este chapéu identificamos as falhas para orientar um caminho mais eficaz na resolução do problema.
E ao contrário do chapéu vermelho, este deve estar pautado pela lógica e por razões evidentes. Mas deve ser utilizado de forma ponderada, sem pormenorizações excessivas para não gerar um debate sem desfecho, impossibilitando a resolução futura do problema.
Chapéu Amarelo
É o símbolo da alegria e positividade. Neste momento o espaço deve ser destinado para a procura de benefícios de uma determinada situação/ideia/problema, com destaque para as vantagens e efeitos positivos.
Caracterizado pelo “pensamento construtivo”, este chapéu abre espaço para apresentar as propostas, reagindo diretamente às colocações apresentadas durante o “uso” do chapéu preto.
O cuidado no uso deste chapéu deve ser com a lógica e no equilíbrio, que precisam estar presentes. O pensamento demasiadamente positivo ou excessivamente seguro devem ser evitados, o primeiro por sua inviabilidade de aplicação e o segundo porque limita a inovação e a identificação de novas alternativas para a resolução do problema.
Abarca também até certa medida um “pensamento especulativo” apoiado em conjecturas lógicas e viáveis.
Chapéu Verde
Representa a natureza e a energia, quando todos devem fazer um esforço criativo intencional. Com a ciência de que a criatividade não é uma característica de uma ou outra pessoa, mas que ela é acessível a todos por meio do desenvolvimento deliberado desta competência.
A criatividade passa pela exploração, pela mudança de direção e pela possibilidade de assumir riscos. O pensamento com o chapéu verde deve tentar melhorar e modificar as ideias sugeridas, com opções alternativas.
Chapéu Azul
A cor azul remete à serenidade, representando o maestro do pensamento. Quem utiliza este chapéu é o responsável pela gestão dos pensamentos organizados a partir de cada uma das etapas. Quem “usa” esta cor é o moderador, ele é permanente em todo o mapa processual de pensamento proposto. O responsável por esse chapéu define o uso dos demais, organizando e apresentando antecipadamente a ordem na qual serão acionados, quais serão utilizados para o exercício, bem como a mudança de cada um deles durante o processo.
O moderador também é o responsável por equacionar as alternativas geradas no decorrer de cada sessão, traçando um resumo, as perspectivas gerais e conclusões. Caso não seja possível estabelecer uma resolução, o responsável pelo chapéu azul deve apresentar o porquê desta impossibilidade, podendo assim definir um novo enfoque para o pensamento originando uma nova sessão.
A técnica foi desenvolvida por Edward de Bono e está descrita de forma completa na obra “Os seis chapéus do pensamento”.